Indisciplina e violência na escola: Uma realidade posta na sociedade contemporânea
Compartilho com vocês artigo publicado na Revista do SIEEESP ( Sindicato dos estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo) sobre como trabalhar a indisciplina na sala de aula.
Indisciplina e Violência na escola: uma realidade posta na sociedade contemporânea
Indisciplina e Violência na escola: uma realidade posta na sociedade contemporânea
Por Priscila Pereira Boy- Pedagoga, Mestre em Educação, MBA
executivo Internacional em Marketing.
Introdução
Vivemos momentos de muitos desafios para a escola. Crises em todos os
âmbitos: desvalorização do professor, multiplicidade de propostas metodológicas
e pedagógicas, resultados insuficientes, ausência e desestrutura da família,
proposta de um novo ensino médio e uma Base Nacional Comum Curricular batendo à
porta, que poderá mudar os rumos e caminhos percorridos até aqui. Aliás, a
proposta é mesmo de mudança. Porque do jeito que está, a escola não está satisfatória
para ninguém.
Alunos insatisfeitos, professores completamente perdidos em relação ao
seu papel, um governo cheio de metas, mas com poucos investimentos efetivos
para melhor da qualidade do ensino aprendizagem. Um grande desafio que
pretendemos abordar neste artigo é sobre a relação entre professor e aluno,
especificamente a indisciplina e a violência.
A escola, como um todo, passa por uma crise de sentido. Não há clareza
para os alunos acerca do que eles estão fazendo lá. A falta de significação do
que é estudar, a evasão, a reprovação e a violência que existem nas mais
diferentes formas acabam por transformar esta relação professor-aluno ainda
mais conflitante e difícil de ser trabalhada.
A indisciplina em
números
Não é motivo de nenhum orgulho, mas estudos recentes conduzidos pela
OCDE, o TALIS, (Teaching and Learning
International Survey) constataram que os professores brasileiros gastam de
10% a 30% do tempo da aula para resolver questões disciplinares. Nos relatos
eles disseram também que são frequentes as agressões verbais a professores e
mais raras, porém crescentes as agressões físicas, a se julgar pelo noticiário.
Discute-se se mediar os conflitos na escola seria papel somente do
professor ou se a presença de mediadores, pessoas preparadas e capacitadas em
mediação de conflitos, teriam mais êxito nesta mediação. O fato é que o
professor anda abarcando tantas atribuições, somado a uma carga horária extensa
e desgastante, que não está dando conta de lidar com tantas demandas.
Em São Paulo, esta experiência vem sendo feita e tem alcançado
sucesso. O vice-diretor tem atuado como mediadores nos conflitos escolares. Os
números nas manifestações de violência e indisciplina tem mostrado queda e
portanto, muitos estão entendendo que esta é uma medida eficaz no combate a
indisciplina e a violência.
Contestar dados parece loucura, mas tenho minhas reservas quanto a
isso. Mas, para me explicar melhor e não ser mal interpretada, terei que tecer
alguns apontamentos para contextualizar o leitor sobre minhas considerações e
reservas.
O mau comportamento em sala de aula é um fenômeno complexo que pode
depender de muitas variáveis sociais e familiares. Vejam, que a indisciplina
não é um assunto localizado apenas na relação professor e aluno.
Existe a família e sociedade, como atores neste processo e nas
condutas que emergem neste relacionamento.
A nova família
brasileira
As famílias brasileiras estão se transformando. Em 15 anos, de 1992 a
2007, o número de casais com filhos, estereótipo de família tradicional, caiu
11,2%. De lá pra cá estes números nunca aumentam. A queda foi compensada pelo
aumento dos novos arranjos familiares: casais sem filhos, mulheres solteiras,
mães com filhos, homens solteiros e pais com filhos. Os dados fazem parte do
Relatório de Desenvolvimento Humano 2010, divulgado pelo Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Hoje em dia há muitos tipos de família e a instituição atual em nada
se parece com o modelo antigo de família, pois até aquelas semelhantes na
formação são bem diferentes no modelo de educação. Nem por isso se desviou dela
o cumprimento dos deveres que ela tem em relação à educação, provimento do
sustento, afeto, vínculos afetivos, condições de vida dignas e de respeito
perante o indivíduo que a forma.
A formação familiar é diversificada, sim, mas nem de longe pode ser
negligente ou delegar essas responsabilidades para as instituições
educacionais, eclesiásticas, entre outras. A família deve tomar atitudes que
façam com que o crescimento do indivíduo e sua inserção na sociedade sejam
saudáveis.
As famílias são apontadas pelos brasileiros como principais
responsáveis por ensinar os valores. A passagem desses conceitos, contudo,
independe das diversas dinâmicas e estruturas familiares.
Uma palavra importante na relação familiar é AFETO. Se não houver
isso, não adianta ser criado por pai e mãe ao lado dos irmãos. Outra palavra-chave
determina a passagem de valores: LIMITE. Esses são dois pontos importantes para
o desenvolvimento e a estruturação da personalidade. O limite auxilia na
socialização do indivíduo e o afeto dá estrutura. Conciliar esses aspectos é
fundamental, independentemente do tipo de família que se configure.
A dimensão moral do ser humano tem de ser trabalhada desde a infância.
Ética se aprende, não é uma coisa espontânea. É preciso lembrar que criar
cidadãos éticos é uma responsabilidade de toda a sociedade.
A família, por exemplo, desempenha uma função muito importante até o
fim da adolescência, enquanto tem algum poder sobre os filhos.
A escola, a igreja, os diversos grupos sociais também, na medida em
que apresenta experiências de convívio diferentes das que existem no ambiente
familiar - se deixo meu quarto bagunçado, o problema é meu; se deixo uma classe
bagunçada, o problema não é só meu. É fundamental que o indivíduo se aproprie
das regras sociais para que possam ter boa convivência, não só na escola, mas
em qualquer contexto social. Uma vez quebrados estes limites , instaura-se
muitos problemas e conflitos nos relacionamentos.
Estas regras de convívio devem ser aprendidas nos primeiros momentos
da vida, no ambiente familiar. É o que chamamos de socialização primária. Tudo
o que aprendemos com a nossa família, nos estruturará como indivíduos.
Ao iniciarmos o convívio com o mundo, estaremos expostos a
socialização secundária. É possível que, ao conviver em espaços diferentes, com
pessoas diferentes, os valores aprendidos inicialmente sejam confrontados e, ao
fazermos nossas escolhas, vamos nos constituindo como sujeitos e formando nossa
identidade.
Noções de autoridade, respeito, regras de conduta e relacionamento
devem ser sedimentados pela família. A ausência desta formação pode gerar
dificuldades no convívio social do aluno na escola e afetará suas relações com
os seus pares e seus professores.
Citamos também a falta de afeto e presença dos familiares na vida dos
alunos. Muitos casos de indisciplina estão ligados a rejeição, baixa estima,
revolta e abandono. Há certas feridas interiores que são difíceis de cicatrizar
e que acompanham os alunos ao logo de sua jornada escolar. Lidar com estas
dificuldades interiores que os alunos trazem para a escola, as vezes se torna algo
impossível para o professor.
O que é
indisciplina afinal?
Conceituar indisciplina não é tarefa simples. Certa vez ouvi uma amiga
dizer que “o nível de indisciplina dos
alunos depende do nível de humor e de tolerância de cada um. ”
Diante da fala dela eu fiquei refletindo se há parâmetros coletivos
para definir a indisciplina ou se este juízo de valor seria algo meramente
individual, ou seja, o que é visto como indisciplina por um educador pode não
ser visto da mesma forma por outro.
Segundo o dicionário Aurélio, “indisciplina
é um procedimento, ato ou dito contrário à disciplina; desobediência, desordem,
rebelião.”
Neste contexto, a indisciplina se caracteriza
pela quebra de algumas normas e regras e muitas vezes, somos levados a pensá-la
de forma unilateral, ou seja, quando falamos em quebra de regras e normas, nos
vem imediatamente a figura do aluno. Mas, não podemos refletir sobre os atos de
indisciplina de forma isolada.
A disciplina
deve nos trazer a ideia de um caminho a ser percorrido ao longo do processo
educacional e do grau de comprometimento que deve existir entre os professores,
alunos e outros funcionários escolares. Portanto, disciplina está, intimamente,
ligada a capacidade de promover a boa convivência na vida escolar. E isto só
será possível se todos os participantes do ambiente escolar estiverem
envolvidos e comprometidos com esta possibilidade.
O conceito de indisciplina não é estático, uniforme, nem tampouco
universal. Ele se relaciona com o conjunto de valores e expectativas que variam
ao longo da história, entre as diferentes culturas e numa mesma sociedade.
Precisamos analisar o contexto da transgressão para que possamos estabelecer as
estratégias de intervenção.
Outra coisa muito importante a ser considerada na aplicação das
sanções disciplinares é o estágio do desenvolvimento humano no qual o aluno se
encontra. Suponhamos que um aluno tenha mordido o seu colega. Se este aluno tem
2 anos de idade, a intervenção é uma. Se ele tem 15 anos de idade, deve ser
outra. As causas também são variáveis, de acordo com a idade do aluno em
questão. Morder é um comportamento esperado e tolerado na fase oral ou seja,
quando o aluno tem 2 anos de idade o que já não se aplica ao aluno de 15 anos,
que já se encontra e uma fase completamente diferente. Morder com 15 anos se
caracteriza muito mais com um ato de agressão voluntária e deve ser tratado com
todo rigor. Para mater um clima de respeito e harmonia no ambiente escolar é
fundamental que todos tenham clareza sobre as regras e normas de convivência.
Todas as regras combinadas e estabelecidas na escola devem ser
respeitadas. Por isso a necessidade de clareza ao colocá-las e coerência na
cobrança. Geralmente, as regras gerais de
funcionamento escolar, como os critérios de avaliação, a distribuição de notas,
horários de entrada e saída, uso ou não de uniforme, se é permitido ou não
namorar no ambiente escolar, etc devem ser expressas no Regimento Escolar, que
deve ser um documento acessível a todo aluno e a família, logo no início do
ano.
Toda a comunidade escolar deve estar ciente das normas. Há também uma
necessidade de que estas regras sejam construídas de forma participativa. A
escola é quem vai estabelecer suas normas, mas, antes de construí-las, a gestão
deve abrir um diálogo, uma escuta a professores, comunidade interna e externa.
Sempre há possibilidade de diálogo em relação a algumas normas que irão reger a
relação cotidiana. Se todos são coautores das regras, certamente terão muito
mais comprometimento para cumpri-las.
Geralmente, as regras que fazemos com a participação de todos são
chamadas de contrato didático.
Construindo um
contrato didático
O Contrato Didático é definido por Guy Brousseau como sendo
a totalidade de comportamentos do docente esperados pelo aluno e a totalidade
dos comportamentos do aluno que são esperados por esse docente, ou seja, são as
expectativas do professor em relação ao aluno e deste em relação ao professor,
incluindo-se o saber e as maneiras como esse saber é tratado por ambas as
partes.
É importante diferenciar o Contrato Didático do Contrato Pedagógico,
visto que este último é gerido de relações sociais, atitudes, regras e
convenções, porém não coloca em jogo o saber. Esse saber é específico do
contrato didático, o qual é influenciado pelos contextos de ensino e
aprendizagem.
Há regras que são explícitas (aquelas que são explicitadas pelo
professor) e implícitas (que acompanham a formação de cada indivíduo dentro do
ambiente escolar). Com isso, o contrato didático vem tanto para explicitar as
regras de modo a determinar a função de cada um dos participantes no processo
de ensino e aprendizagem quanto para ressaltar as regras que deveriam ser
conhecidas por todos.
A elaboração de um contrato didático difere em virtude da idade dos
alunos. Na educação infantil e anos iniciais, onde o aluno ainda é pequeno e
precisa mais de direcionamento do adulto, o ideal é fazer com a turma uma lista
dos combinados. Sugiro que se faça um cartaz de coisas que valem e que não
valem na sala de aula. Toda vez que houver uma transgressão, é necessário se
reunir com a turma e retomar os combinados estabelecidos.
Para os alunos maiores, que já tem um nível de abstração e reflexão
mais estruturado, a construção do contrato pode ser feita através de um debate
ou uma dinâmica, em que os alunos exporão as regras que acham importantes para
o bom funcionamento das aulas. Estas ideias deverão ser mediadas pelo
professor, para que não se perca o foco do que deve ser discutido e para que
seja dada a chance de todos falarem.
Muitas vezes os alunos podem querer estabelecer regras que estão fora
de propósito ou fazer concessões que comprometerão o bom andamento da aula.
Neste momento é necessário intervir, fazendo os alunos refletirem
sobre os desdobramentos de tais atitudes. Por exemplo, se os alunos dizem que
deve ser permitido sair de sala na hora que quiserem, o professor deve fazê-los
refletir sobre a necessidade de acompanhar a aula toda, as explicações e
atividades para a compreensão e aprendizagem do que está sendo exposto.
Não participar das proposições, boicotar o trabalho proposto também é
uma das manifestações de indisciplina.
Nunca se deve perder de vista que o professor deve exercer sua
autoridade na sala de aula. Ao logo dos tempos o professor foi perdendo sua
credibilidade e status social e isto fez com que ele ficasse confuso e inseguro
em relação a sua posição e seu papel na sala de aula.
O papel do
professor ao longo dos tempos
Antigamente
o professor era um profissional bem mais valorizado, gozava de prestigio e
status na sociedade ao contrário do que se percebe atualmente. Estamos vivendo
um momento de muitas mudanças ocasionadas pela globalização, consumo e
comunicação, marcado pelo fácil acesso a informação e em decorrência disso, o
professor não é mais o único que detém todo o saber, deixou de ser o centro de
tudo e passou a ser um mero mediador de certos conhecimentos. Em alguns
mementos, o professor se torna um aprendiz, pois os alunos traz mais
conhecimento sobre certo aluno do que ele mesmo. Isto é muito recorrente em
assuntos ligados a era tecnológica por exemplo.
O professor
enfrenta muitas dificuldades, não sabe mais como atuar em sala de aula. Em
decorrência das mudanças ocorridas no cenário educacional e do perfil do aluno,
o profissional precisa se manter atualizado, bem como desenvolver uma
aprendizagem permanente para poder ser capaz de acompanhar essas
transformações.
A
falta de interesse dos alunos é mais um dos fatores que desestimulam o trabalho
docente. Alguns professores lutam contra o fracasso escolar de seus alunos,
porém, enfrentam a falta de interesse dos mesmos.
Hoje
vivemos numa sociedade marcada pelos avanços científicos e tecnológicos, e em
meio a tantas mudanças sociais mudou-se significativamente essa percepção da
sociedade em relação a profissão docente.
Ainda
temos que citar a necessidade de novas metodologias, que dialoguem com os “nativos digitais”, que são os alunos
que nasceram após o advento da tecnologia. Pesquisam apontam que alunos que
usam constantemente a tecnologia tem formas diferentes de aprender. Precisam de
um ensino híbrido, de metodologias ativas e isto é um grande desafio para os docentes.
Desvalorização,
ausência da família, alunos sem interesse e mundo mais atraente que a escola,
são alguns dos fatores que contribuem para a indisciplina na sala de aula.
Celular: o campeão na quebra das regras
Na
era da informação, a tecnologia móvel provocou profundas mudanças na maneira
como a sociedade trabalha, aprende e se diverte.
Em
um mundo onde a tecnologia faz parte da vida de quase todas as pessoas o
celular especificamente tornou-se para os pais, símbolo de segurança e
controle. Para os filhos, veículo de comunicação e fonte de entretenimento e
informação. E para a escola? Oficialmente, sinônimo de proibição, porque o
celular tem sido um grande desafio para os professores, pois o aluno não está
conseguindo discernir como usá-lo, de forma ética e adequada, dentro do
ambiente escolar.
O maior problema do celular em sala de aula hoje não está mais ligado
no inconveniente do barulho ao se receber uma ligação. Não é simplesmente se o
aluno pode ou não conversar ao celular. Aliás, a geração atual não costuma
falar ao celular. Silenciosamente, olhos
e dedos estão centrados nas telas dos smartphones, enquanto o professor fala ou
orienta alguma atividade, numa dispersão que nem sempre é barulhenta ou
percebida. O silêncio e a apatia durante a aula podem ser decorrentes
exatamente um indicativo do uso de aplicativos para troca de mensagens.
Alunos tem usado o celular para diversão, navegando nas redes sociais
e se tornando totalmente dispersos nas aulas. Outros alunos usam o celular como
consulta para aferir as informações dos professores e afrontá-los ou ainda
filmam conversas, fazem ameaças, tiram fotos e tantas outras coisas que vemos
todos os dias na sala de aula.
Sabemos de todas estas condutas, o que nos coloca, como educadores
diante de algumas possibilidades e necessidades.
Em primeiro lugar, a escola é um espaço educativo e sabemos que mudar
comportamentos e atitudes é coisa de longo prazo. Devemos educar os alunos para
fazer uso adequado deste equipamento, que nos ajuda de várias formas a melhorar
nossa vida cotidiana.
O professor pode valer-se de vários recursos digitais em sala de aula,
elaborando projetos com intenções educativas claras e regras bem definidas.
Usar o celular para produzir vídeos, fotos, acessar resolução de
exercícios, criar grupos de discussão podem ser boas alternativas para
aproveitar o fascínio dos alunos pelo uso da tecnologia.
É claro que a intensidade, conveniência e eficiência da utilidade do
celular como recurso didático precisam levar em conta a faixa etária dos alunos
e a pertinência do conteúdo ou atividade desenvolvida. Não se trata, portanto,
de seguir um imperativo do uso do celular em toda aula e durante todo o tempo.
O maior desafio é fazer com que o aluno não perca o foco, pois se bem
utilizado, ele pode acrescentar muito à prática pedagógica.
Leis: a quem elas
protegem?
Muitas leis de proteção vêm sendo criadas ao longo dos tempos. A mais
famosa delas é o ECA (Estatuto da criança e do adolescente). Celebramos cada
uma delas, pois acreditamos que crianças e adolescentes são cidadãos de
direitos.
Quando os direitos fundamentais dos indivíduos são violados,
percebemos que a violência recebida é imediatamente passada a frente. A escola,
como Instituição de Educação, precisa ajudar a garantir os direitos dos
educandos, bem como mediar as relações de violência e conflitos, que são uma
das faces da indisciplina.
Mas, cabe aqui uma reflexão. Os direitos dos educandos acabaram por se
tornar uma arma contra o professor. Já assisti a vários vídeos na internet onde
alunos agrediam verbalmente e até mesmo fisicamente os professores e seus
pares, ancorados nos direitos que sabem possuir.
Uma lei que surgiu para proteger, acabou colocando muitas pessoas em
situação de vulnerabilidade. O Estatuto da Criança e do Adolescente não traz
apenas direitos, mas também deveres. Os pais precisam retomar seu papel de
autoridade e de responsabilidade – não se delega isso a terceiros. E o
professor precisa resgatar seu papel de autoridade na sala, e o diretor, seu
papel de autoridade na escola.
O que acontece na verdade, é a ineficiência do Estado para fazer
cumprir as sanções que o ECA propõe. Este também não atua de forma preventiva,
não exerce seu papel na oferta de oportunidades e sabemos bem, quando o estado
falha, o crime entra.
O que assistimos todos os dias são professores desrespeitados e
inertes frente as impossibilidades de agir, de forma mais incisiva, com alguns
alunos, por causa da interpretação equivocada do que vem a ser os direitos das
crianças e dos adolescentes
Nem tudo está perdido
O que fazer diante de tantos desafios? Será que não há uma solução
possível?
Faz-se necessário examinar o problema sob outra ótica: a questão
central não está na disputa entre professor e aluno e sim, na organização do
trabalho coletivo para gerar coautoria na construção de regras e normas.
Uma disciplina ideal é aquela consciente e interativa, que tenha
participação, respeito, responsabilidade, cooperação, reflexão, crítica e
autocrítica, somado a construção do conhecimento e exercício da cidadania.
Nos dias atuais cresceu muito o número de pessoas que tem acesso à
escola. A chegada de mais pessoas aumentou a diversidade e, consequentemente,
seus conflitos.
A primeira solução que propomos é que o professor faça com que os
alunos “Aprendam a conviver”. Para conviver com o outro, devemos ser educados a
ter respeito e tolerância sempre. Atuar de forma preventiva, por meio do
diálogo constante e de Projetos que envolvam alunos e comunidade.
Outra solução proposta é o incentivo a trabalhos que primem pelo
protagonismo juvenil, que se dê voz e espaço para criação, e para que os alunos
apontem caminhos e novidades.
A noção de pertencimento também previne muitos atos de indisciplina e
de violência. Quando as relações se tronam amigáveis, tudo fica mais respeitoso
e ameno. Sei de muitas experiências nas quais podemos constatar que, na medida
em que a relação entre professor e aluno vai ganhando maior cumplicidade,
respeito, confiança e afeto, as relações se tornaram muito menos violentas. A
cooperação e a prática do diálogo entre a escola e as comunidades caracterizam
regiões com menores índices de violência.
Considerações finais
A situação
da indisciplina está longe de ser solucionada. Não é só contratar mediadores de
conflitos e achar que o problema cotidiano da sala de aula está resolvido. Se o
professor fosse reconhecido e imponderado como a figura de autoridade e
colocado no lugar que merecia estar, as relações poderiam ser mediadas por ele
mesmo.
Nossa proposta é que os alunos, a família, o
Estado e a sociedade valorizem, apoiem e legitimem a figura do professor,
porque sem apoio, sem prestígio e sem investimento, eles não conseguirão fazer
nada. Nem conter a indisciplina, nem ministrar as suas aulas.
Celso Vasconcellos assegura que é
importante que haja participação e comprometimento de todos os envolvidos no
processo pedagógico: pais, alunos, professores, equipe pedagógica, administrativa
etc. na elaboração das normas disciplinares no âmbito escolar, viabilizando um
projeto de participação democrática de forma consciente e interativa para que
os problemas relacionados à escola sejam discutidos em conjunto.
E neste
turbilhão de desafios que se colocam diante de nós todos os dias, se não nos
abrirmos ao diálogo e ao trabalho coletivo, vamos avançar muito pouco e todo
mundo vai sair perdendo. A educação pede socorro.
Referências
BOY, Priscila Pereira. Inquietações e
desafios da escola. WAK editora,2010
BOY, Priscila Pereira. Afinal, quem
manda nesta casa? Educando filhos nos dias atuais.
ARROYO, Miguel G. Oficio de Mestre:
Imagens e Auto-|Imagens. Petrópolis, Rio deJaneiro. Vozes, 2000.
Machado, Nilson José. Epistemologia e Didática: as concepções de
conhecimento e inteligência e a prática docente. São Paulo: Cortez, 1995.
Oliveira, C. P.
R. (2013). Treinamento de professores em grupo: um programa para trabalhar
problemas de
comportamento em sala de aula. Belo Horizonte: Programa de Pós-graduação em
Neurociências, UFMG, dissertação de
mestrado não publicada.
Perrenoud, Philippe. Avaliação: da excelência à regulação das
aprendizagens - entre duas lógicas.
Porto Alegre: Artmed, 1999.
Baldwin, J. D.
& Baldwin, J. I. (2001). Behavior principles in everyday life (4th ed.).
Upper Saddle
River (NJ):
Prentice Hall.
Barkley, R. A.,
(1997). Defiant children: A clinician’s manual for assessment and parent
training
(2nd.
ed.). New York: Gu
Comentários
Postar um comentário