O Brasil tem cura?


O Brasil tem cura?

Por Priscila Pereira Boy

Compartilho com vocês o artigo da minha coluna deste mês no Jornal Ana Lúcia.

O maior desafio que se colocou diante de mim este mês para escrever meu artigo, não foi a falta de tempo ou ideias. Foi que título escolher. Falo isto porque tenho me sentido muito incomodada com as notícias sobre o meu país. 

À cada revelação, a sensação que tenho é que não sobrou ninguém. Todo mundo está envolvido e, baseado em tudo o que vejo, tenho certeza de que as coisas são bem mais podres e profundas do que parecem, ou de como são apresentadas. 

Primeiro pensei em colocar : “ Será que o Brasil tem jeito?”, mas a palavra jeito me remeteu ao jeitinho asqueroso com que tudo foi arquitetado por aqui. Empréstimos fraudulentos, compras falsas, superfaturadas, laranjas, empresas fantasmas, as esposas envolvidas. Meu Deus! Pra tudo se dá um jeito. Então refutei o nome de cara.

Depois pensei: “ Será que o Brasil tem solução?”, mas, como sou pedagoga, me lembrei que solução vem de situação problema. Algo a ser resolvido, plausível, desafiador, que mexe com nosso raciocínio e inteligência. Então percebi que o que o Brasil precisa não é de uma solução. É algo mais que isso.

Então me veio a palavra “cura”. Imediatamente encontrei ressonância com o que quero dizer. 
O Brasil precisa de cura, porque o país está muito donte. 
Convém deixar claro, porém, que o tratamento é longo, delicado e cheio de efeitos colaterais. O paciente encontra-se na UTI e requer cuidados especiais. 

A primeira coisa que nos leva a cura é um diagnóstico preciso. Identificar as causas dos males, para que o tratamento seja efetivo. O problema é que as vezes, a causa vem mascarada. Muitas vezes o problema é a glicose alta, mas as pessoas acham que é o grau da vista que aumentou. E assim, até descobrirmos o que realmente está por traz dos males, talvez seja tarde demais.
Ir a fundo, prosseguir na investigação, pois, uma boa receita médica depende de um diagnóstico correto. 

Não faltam diagnósticos para avaliação, o que vale dizer que não faltam análises conjunturais e estruturais. Tanto na mídia quanto nas redes sociais, ou na imprensa alternativa, multiplicam-se os debates sobre a atual situação socioeconômica e política brasileira.

Com o diagnóstico em mãos, surge a pergunta: quais os remédios a serem aplicados?
Diante de tamanha infecção,alguns antibióticos são absolutamente urgentes. O primeiro refere-se à defesa de canais, instrumentos e mecanismos para a participação popular. Sem a voz das ruas, campos e praças, nenhum governo dito democrático pode legitimar-se. Se o cidadão não luta, não denuncia, não deixa de votar nas mesmas pessoas, as coisas continuam na mesma.

Vem em seguida a necessidade de um antibiótico que elimine a cumplicidade corrupta e perversa entre os três poderes. Os últimos escândalos mostram que “mãos invisíveis” movem os fios de um estranho e obscuro jogo de marionetes na complexa relação entre executivo, legislativo e judiciário. Claro, entre eles devem existir saudáveis diálogos e comunicações.

Mas o que vem à tona é uma compra e venda de interesses, privilégios, influência – onde o interesse econômico pessoal prevalece.
Nem precisaria falar, em terceiro lugar, do antibiótico relacionado ao desafio da ética no exercício da política, se realmente quisermos trabalhar pela justiça, a solidariedade e a paz.

Mais do que nunca precisamos erguer a bandeira da esperança e da utopia. E retomar o verdadeiro sentido da palavra Cidadania. 

Esse é o único remédio que pode salvar o país da corrupção, da inércia, da apatia.

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